As variações hormonais alem de afetarem o próprio sistema reprodutivo da mulher, tem uma surpreendente influência na cavidade oral. As mudanças cíclicas na saúde oral, que correspondem às fases de vida da mulher ou seja: puberdade, menstruação, gravidez, menopausa, merecendo atenção também os anticoncepcionais. Vamos relatar com cada uma delas influi no periodonto feminino.
Na PUBERDADE
Os níveis de estrógenos aumentam significativamente na puberdade, e esta fase da vida da mulher provoca alterações microbianas no microambiente gengival. Clinicamente, pode existir uma reação nodular hiperplásica da gengiva, os tecidos inflamados tornam-se vermelho-escuro, podendo aumentar o risco de sangramento nas regiões papilar e interdental durante a mastigação e a escovação. As alterações bucais que podem acompanhar a MENSTRUAÇÃO incluem: inflamação eritematosa dos tecidos gengivais, ativação de herpes labial, úlceras aftosas e inflamação de glândulas salivares, estas alterações se devem aos níveis elevados de estrógenos. A gengivite induzida pela placa preexistente pode ser um fator importante para detectar as alterações induzidas por hormônios durante o ciclo menstrual. Esses sintomas geralmente melhoram quando começa a menstruação. Muitas mudanças sistêmicas e bucais ocorrem durante a GRAVIDEZ.
As manifestações bucais incluem:
Cáries, perimólise (erosão dental por ácidos), gengivite e granuloma gravídico, mobildade dental, xerostomia e ptialismo/sialorréia, sendo a gengivite a mais freqüente manifestação bucal associada à gravidez. Geralmente ela resulta da má higiene oral, irritantes locais, e mudanças dos tipos predominantes da flora bacteriana. Existe um maior crescimento seletivo de patógenos periodontais como a prevotella intermédia na placa subgengival durante o início da gengivite da gravidez no 3º ao 4º mês . Clinicamente a gengivite é caracterizada pela cor vermelho-viva da gengiva marginal e papila interdental, o tecido edematoso, liso e brilhante com tendência a sangrar facilmente.
Pode haver aumento da profundidade da bolsa e perda mínima da inserção periodontal. Tilakaratne et al. (2000a), relataram um aumento progressivo da inflamação com o avanço da gravidez, sendo mais significativos no 2º e 3º trimestres, apesar dos níveis de placa permanecerem inalterados. No 3º mês após o parto, o nível de inflamação gengival era semelhante ao que foi observado no 1º trimentre de gravidez. Isso sugere uma correlação direta entre a gengivite e os níveis elevados e mantidos dos hormônios gestacionais durante a gravidez, que regridem durante o período pós-parto.
O granuloma gravídico
É uma lesão fibrogranulomatosa séssil ou pediculada, de modo geral indolor. Uma combinação da resposta vascular induzida pela progesterona e efeitos estimuladores da matriz pelo estradiol contribuem para o desenvolvimento do granuloma gravídico. Os efeitos vasculares são responsáveis pela aparência vermelho brilhante, hiperêmica e edematosa. As lesões ocorrem nas papilas anteriores dos dentes superiores e, em geral não excedem 2 cm de diâmetro. A remoção cirúrgica é indicada no período pós-parto.
Os níveis elevados de progesterona aumentam a permeabilidade capilar e a dilatação, aumentando o exudato gengival, isto estimula a síntese de prostaglandinas que podem ser responsáveis por algumas alterações vasculares. Os fatores que afetam o epitélio e aumentam a permeabilidade vascular podem contribuir para uma resposta exagerada à placa bacteriana durante a gravidez.
A mobilidade dental provavelmente está relacionada com o grau de doença periodontal que altera o tecido de sustentação, assim como às modificações minerais na lâmina dura e não devido à alteração do osso alveolar. Todas estas manifestações em geral diminuem após o parto, mas a gengiva nem sempre volta ao seu estado saudável. Como a maioria dos medicamentos atravessam a barreira placentária e a organogênese ocorre principalmente no 1º trimestre, a medicação deve ser prescrita no 2º trimestre, para evitar que ocorram defeitos no desenvolvimento do feto.
Qualquer forma de medicação durante a gravidez deve ser usada apenas se a gravidade da condição que está sendo tratada for mais importante do que as conseqüências. A mulher grávida precisa ser orientada a respeito das consequências da gravidez sobre os tecidos gengivais e motivada por meio de avaliação de controle de placa, com tratamento profissional conforme a necessidade.
A doença periodontal da mãe é um importante fator de risco para bebês prematuros e de baixo peso.
Na VIDA ADULTA
Quando a mulher faz uso de contraceptivos, que são hormônios gestacionais sintéticos (estrógeno e progesterona), estes acarretam efeitos na cavidade bucal semelhantes aos da gravidez, porem menos acentuados. A manifestação bucal mais comum de níveis elevados de hormônios ovarianos é o aumento da inflamação gengival acompanhado do aumento de exudato gengival, além de alteração dos componentes salivares (podendo causar aumento nos níveis de secreção salivar, ou ressecamento bucal), melanose gengival, incidência aumentada de osteíte localizada (alvéolo seco) após extração de terceiros molares mandibulares. Se for possível, as cirurgias ou exodontias devem ser realizadas do 23º ao 28º dia do ciclo de pílulas, dias não-estrogênicos, para reduzir o risco de osteíte localizada.
Tilakaratne et al.(2000b) mostrou níveis significativamente mais elevados de gengivite em usuárias de contraceptivos do que em não-usuárias, apesar dos níveis semelhantes de placa bacteriana. Havia também significativa destruição periodontal naquelas que usaram injeção de progesterona por 2 a 4 anos, comparadas com aquelas que usaram por menos de 2 anos. Esses resultados podem ser atribuídos à duração de uso e aos efeitos da progesterona, que promovem o catabolismo tecidual, resultando em maior perda de inserção periodontal. Entretanto, se os baixos níveis de placa forem estabelecidos e mantidos durante o uso, esses efeitos podem ser minimizados.
Na MENOPAUSA
Ocorre o aparecimento de dor, sensações de ardor, percepção alterada do gosto (salgado, picante ou amargo) e xerostomia. Os níveis hormonais declinam devido à diminuição da função ovariana. Isso é caracterizado por alterações na mucosa oral que podem variar desde uma atrofia gengival até uma gengivoestomatite menopáusica (gengiva brilhante que sangra com facilidade), além da osteoporose, que é uma doença caracterizada pela perda de densidade mineral óssea. A perda óssea nas mulheres ocorre mais rapidamente nos anos que se seguem imediatamente à menopausa, quando os níveis naturais de estrógenos diminuem. A osteoporose severa provoca maior perda dental e reabsorção do rebordo alveolar, e pode também afetar a gravidade da periodontite pré-existente.
Prevenção e tratamento da osteoporose incluem: suplementos de cálcio e vitamina D, exercícios de musculação, alendronato, calcitonina , fluoreto de sódio e terapia de reposição hormonal (TRH). A TRH ( estrogênio) promove a renovação lenta do osso, a qual resulta em aumento da densidade óssea nos espaços trabeculares durante a remodelação. O estrógeno é necessário para proteger contra a perda óssea. O tratamento de reposição hormonal a longo prazo tem sido relacionado com o risco aumentado de câncer de mama. As formulações modernas utilizam o tratamento combinado com uma dose apropriada de
progesterona em associação ao estrogênio a fim de minimizar alguns desses fatores de risco.
Conclusão:
As influências hormonais durante os vários ciclos de vida da mulher tem impacto na cavidade oral, por isso elas requerem cuidados especiais. Nós cirurgiões dentistas devemos orientar nossas pacientes para que elas possam obter e manter uma ótima saúde bucal que lhes permitirá alcançar um melhor estado de saúde geral e qualidade de vida .
1- reação nodular hiperplasica gengival
2- maior risco de sangramento papilar
3- gengivite
4- ativação de herpes labial
5- ulceras aftosas
6- inflamação de glândulas salivares
7- granuloma gravidico
8- mobilidade dental
9- melanose gengival
10-atrofia gengival
11- gengivoestomatite menopausica ( gengiva brilhante que sangra facilmente)
Bibliografia
Lindhe,L.; Karring,T.; Lang,N.P.; Tratado de Periodontia Clínica e Implantologia Oral, 4ªed, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan 2005. Steinberg,B.J.; Jeffcoat,M.K.; Geurs,N.; Perno,M.; Mulheres a e Odontologia, Revista Compedium Colgate vol 22, nº1, 2001.
Tilakaratne,A; Soory,M.; Ranasinghe,A.W.; Corea,S.M.X.; Ekanayake.S.L. & De Silva,M. (2000 a) Periodontal disease status during pregnancy and 3 months post-partum in a rural population of Sri-Lankan Women. Journal of Clinical periodontoly 27. 787-792.
Tilakaratne,A; Soory,M.; Ranasinghe,A.W.; Corea,S.M.X.; Ekanayake.S.L. & De Silva,M. (2000 b) Effects of hormonal contraceptives
on the periodontium in a population of rural Sri-Lankan Women. Journal of Clinical periodontoly 27. 753-757.
Girlene E.P.Villa. Especialista em Periodontia, Mestre e Doutora pela FORP-USP Lorene Pereira de Queiroz Casali CD SAÚDE PERIODONTAL NAS FASES DA VIDA DA MULHER
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