Planejamento Protético de Overdenture e Protocolo Visando a Manutenção da Higiene a Longo Prazo

Planejamento Protético de Overdenture e Protocolo Visando a Manutenção da Higiene a Longo Prazo

  • Planejamento Protético de Overdenture - Dental Family

Com o avanço da idade, várias alterações acabam modificando o estilo de vida, sejam por problemas de saúde ou simplesmente pelo processo fisiológico do envelhecimento.
No nível sistêmico podemos citar o enfraquecimento do sistema músculo esquelético e a diminuição da capacidade funcional de sistemas bioquímicos, levando o idoso a um prejuízo que só pode ser amenizado se o cuidador conseguir identificar esse processo(1). As alterações bucais ocorrem com a diminuição da capacidade gustatória, decorrentes da diminuição do número de papilas gustativas (80% a menos que na idade adulta).

Os dentes ficam mais escurecidos e desgastados, o periodonto tende a ficar mais frágil, sofrendo reabsorções com consequente migração apical da gengiva expondo raízes dentais. A diminuição do fluxo salivar (xerostomia), inerente ao envelhecimento, pode ser acentuada pelo uso de medicamentos provocando “queimação” ou até dores na mucosa bucal(2). A diminuição da coordenação motora dificulta a realização de tarefas simples como a escovação dos dentes e o uso do fio dental.

 

Surge a Necessidade de um Cuidador

Essas mudanças levam os idosos (termo designado a pessoas de 60 anos ou mais) a necessitar de alguém para auxiliá-los nas atividades que antes pareciam simples. Dessa necessidade surge a figura do cuidador que pode ser alguém da família ou um funcionário contratado para este fim.

Pesquisa realizada na Faculdade de Odontologia de Araçatuba-Unesp, em instituições que abrigam idosos nessa cidade, mostraram que a idade média dos cuidadores é de 37 anos, predominantemente do sexo feminino (77,8 %), dos quais 5,55% não concluíram o primeiro grau, 60% concluíram o segundo grau, 83% possuem curso técnico de auxiliar de enfermagem, 16,7% não tem qualquer tipo de formação técnica e 61,11% trabalham nessa área por necessidade, não por aptidão. Quase 90% dos cuidadores relatam que realizam a higiene bucal dos idosos pela sua incapacidade de fazê-la. Relatam que costumam remover a prótese da boca do idoso e a colocam num recipiente com 220ml de água com 1 colher de chá de hipoclorito de sódio, durante 15 minutos(3).

Pode -se também usar produtos efervescentes para higienizar as próteses. O acúmulo de debris na superfície das próteses facilita a colonização de bactérias e fungos contribuindo para o aparecimento de diversos processos patológicos como a estomatite protética. Os estudos demonstram que somente a escova não é suficiente para a remoção completa do biofilme e o uso de escovas duras pode provocar desgastes na superfície da resina deixando-a mais porosa e facilitando o acúmulo de biofilme. Concluíram que para a correta higienização das próteses deve-se associar métodos físicos e químicos usando escovas e produtos químicos compatíveis com o tipo da prótese(6).

 

Os 3 Diferentes Tipos de Idosos

Os idosos podem ser classificados em três grupos distintos, de acordo com sua habilidade funcional(7):

✓ 1 – Independentes (sadios),
✓2 – Parcialmente Dependentes (com problemas físicos e/ou psicológicos parcialmente debilitantes) e
✓3 – Totalmente Dependentes (com problemas físicos e ou psicológicos totalmente debilitantes).

Os idosos que têm capacidade de realizar sua própria higiene bucal devem ser estimulados para exercitarem a coordenação motora e também elevarem sua autoestima. Higienizar uma prótese móvel é uma tarefa razoavelmente fácil tanto para o idoso independente como para o cuidador. As próteses fixas são as que exigem maior habilidade. Com o desenvolvimento dos implantes e sua grande divulgação na mídia, as próteses sobre implantes, tornaram-se uma prática rotineira na Odontologia. As próteses sobre implantes conferem ao seu portador mais segurança em todas as funções bucais, proporcionando um maior conforto e maior naturalidade quando comparadas com pontes móveis ou dentaduras convencionais(8). Quando o indivíduo chega ao ponto de perder todos os dentes naturais e quer reabilitar com implantes, a prótese pode ser de dois tipos:

  • Prótese Protocolo e
  • Overdenture.

A escolha entre um tipo e outro, realizada durante o planejamento do profissional, depende de alguns fatores como: quantidade e qualidade óssea, padrão de reabsorção, número e tamanho dos implantes, fatores estéticos, fonéticos e outros(9).

A Prótese Protocolo é implanto-suportada e implanto-retida, fixada sobre 4 a 8 implantes em média, parafusada e é retirada somente pelo cirurgião-dentista. Confere boa estética. O inconveniente é que esse tipo de prótese dificulta a higienização, pois todos os dentes são unidos entre si e parafusados nos implantes, não saindo da boca, exigindo mais cuidado do paciente ou cuidador (Figuras 1A, 1B e 1C).

A Overdenture é uma prótese total removível sobre implantes, que exige menos implantes que a tipo protocolo (2 a 6 em média) (Figuras 2A e 2B).

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A overdenture tem um encaixe em uma barra que une os implantes à prótese dando maior estabilidade, retenção e conforto. Esta prótese pode ser retirada pelo paciente ou pelo cuidador e, por isso, sua higienização é facilitada. Pode ser higienizada com a mesma técnica e escova usada para as próteses totais convencionais e próteses parciais removíveis8.

Para a limpeza do tipo protocolo são indicados o fio dental, que pode ser associado ao uso de passa fio, escovas interdentais de diversos diâmetros, escovas dentais próprias para próteses, aparelhos elétricos que proporcionam um jato de água sob pressão para ser direcionado entre a base da prótese e a gengiva10. A retenção de resíduos em torno dos implantes, sob a prótese, leva à periimplantite (sangramento e perda óssea) (6,11) (Figura 3).

O uso complementar de agentes químicos para diminuir a quantidade de placa bacteriana, pode ser uma forma de tentar superar a deficiência mecânica, pois requer o mínimo de habilidade do indivíduo para sua utilização(12).

 

DISCUSSÃO

O aumento da população idosa e a grande divulgação das próteses sobre os implantes, nos levam a refletir sobre a manutenção da higienização a longo prazo. A dificuldade de higienização das próteses fixas, quer sejam elas sobre implante ou não, acarretam sérios problemas para os idosos parcialmente ou totalmente dependentes. Os cuidadores, na sua maioria, não têm habilidade e treinamento para fazê-la e os próprios idosos dificultam, não colaborando com o procedimento(3). Essa dificuldade de higienização acaba resultando em periiplantite, perda dos implantes e consequentemente a perda da prótese, somando um grande sofrimento ao paciente idoso e aos seus familiares.

Mizuno e Lorençato(13), advogados, comentando sobre o Estatuto do Idoso, criado em 2003, relatam que o cirurgião-dentista deve estar atento analisando as dificuldades do idoso na execução de sua higiene oral, visando um planejamento odontológico que busque sempre o bem estar e qualidade de vida de seus pacientes. Para evitar esses transtornos, no momento da anamnese, o cirurgião-dentista poderia observar detalhes que o levassem ao planejamento de uma overdenture ao invés de protocolo. O cirurgião-dentista não pode adivinhar o futuro, mas a anamnese pode orientar em relação à saúde atual do paciente, facilitando projetar o futuro.

Indivíduos que hoje mostram-se saudáveis mas que já fazem uso contínuo de anti-hipertensivos, anticoagulantes, dislipidêmicos, hipoglicemiatos orais ou sistêmicos ou que já apresentem problemas visuais ou neurológicos, devem ter seu tratamento planejado com maior atenção(14). Dessa forma, deve-se considerar também a saúde geral antes de definir o melhor tipo de prótese. O idoso e/ ou sua família devem ser informados sobre as opções de próteses para o seu caso.

A saúde bucal é parte integrante e inseparável da saúde geral e tem sido relegada ao completo esquecimento pelas políticas públicas, no caso brasileiro, quando se discutem condições de saúde da população idosa(15).

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CONCLUSÃO

As próteses do tipo protocolo como overdenture conferem ao paciente edêntulo boa estética, retenção, segurança e conforto para as funções mastigatórias e sociais. A prótese protocolo exige habilidade para a higienização. Essa eficiência para a higienização não é conseguida pelo idoso nem pelo cuidador levando à problemas periodontais, dores e a perda da prótese. Sugere-se que a prótese tipo overdenture seja a indicada, dentro dos limites do planejamento profissional, para idosos parcialmente, totalmente dependentes e para os que façam uso de medicação contínua por desordens sistêmicas importantes, visando a facilidade de manutenção da higiene, conforto e duração da prótese a longo prazo.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1) Nakatani A. Perfil dos cuiadores informais de idosos com deficit de autocuidado atendidos pelo programa de saude da familia. Rev.Eletron.Enferm.,v.5, n.1,2003.
2) Brunetti R.;Brunetti F.l. Odontogeriatria: noções de interesse clinico.São Paulo: Artes medicas. 2002.
3) Saliba,N.A. et al.Inteface- Comunic. Saude,Educaçao.v.11, n 21,p 39-50,jan/abr 2007.
4) www.odontomagazine.com.br
5) https//m,youtube.com/watch?v=374adGhbhOE

6) Gonçalves,L.F.F. et al. Higienização de próteses totais e parciais removíveis. Revista brasileira de ciências da saúde. v 15, n.1, pg 87-94, issn1415-2177, 2011.
7) Guedes J.S. Sorria toda vida,viva com saude bucal. Autocuidado e cuidadores. São Paulo: secretaria da saúde de São Paulo,2001. Disponivel em : . Acesso em 10 de out 2005.
8) Basso, M.F.M. et al. Carga imediata e carga tardia em overdentures sobre implantes. Salusvita, Bauru. 2008. v.27,n.2,p287-308,2008.
9) Batista,A.U.D. et al. Comparações entre overdentures e próteses totais fixas sobre implantes. Revisão da literatura. Rev.ABO nac. 13(4):208-213 ago/ set. 2005.
10) Https://m.youtube.com.br/watch?v=25bzRtMsuiY

11) Hultin M.,Komiyama A, Klinge B. Supportive therapy and the longevity of dental implants: a systematic review of the literature. Clin.Oral Impl. res
18(Suppl 3);50-62,2007.
12) Soares , L.G.et al. Avaliação clínica de Malvatricin na inibição da formação de placa dental. Perionews 8(3):262-8 , 2014.
13) Mizuno,E.L.,Lorençato,M.C. O idoso e a saúde bucal-Direitos. Revista Gutierre Odontolife -edição 60, p.42, 2014.
14) Mazzonetto,R.; Neto, H.D.; Nascimento, F.F. Enxertos Ósseos em Implantodontia.Cap. 4,1ed, ed. Napoleão, SP, Brasil, 2012.
15) Pucca Junior, G.A. A saúde bucal do idoso: aspectos demográficos e epidemiológicos. Disponível em <http://odontologia.com.br/artigos.asp> 2005.

 


GIRLENE E. PREZOTTO VILLA
Especialista em Periodontia e Implantodontia. Mestre e Doutora pela Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (Forp-Usp). Coordenadora do Atendimento Odontológico Domiciliar “Villa Dentista“.
E-mail: gepvilla@gmail.com

FABRÍCIO MARIANO MUNDIM
Mestre e Doutor em Reabilitação Oral pela Forp-Usp. Especialista em Prótese Dentária. Professor em Implantodontia da Fundação Odontológica de Ribeirão Preto (Funorp) e da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp).

 

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