Dra. Girlene E. Prezotto Villa – Especialista em Periodontia, Mestre e Doutoranda pela FORP-USP. Dra. Daniela Biagi de Freitas – CD Dra. Patrícia Mayo Caíres – CD Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS, 1992 ): “ o envelhecimento é reconhecido como uma das mais importantes modificações na estrutura da população mundial”. Essa modificação do perfil etário é uma verdade em todos os países do mundo, devido ao avanço das ciências medicas e da instrução cada vez maior das pessoas sobre questões de saúde. Para salientarmos a magnitude desta evolução populacional em nosso país lembraremos que, segundo a World Health Statistics ( 1997 ), em 1950 ocupávamos o 16o lugar em população com idade igual ou superior a 60 anos, com 2,1 milhões de idosos.
Em 2025, estima-se que este contingente se elevará a 31,8 milhões ( aumento de 1.514%), o que nos elevará à sexta posição. Envelhecer bem, prolongar a juventude e retardar a morte tem sido ideais permanentes do ser humano. Ao longo dos séculos, filósofos, teólogos e cientistas se envolveram em questões intelectuais sobre qual é a essência do segredo da manutenção da juventude e de uma boa e longa velhice. A qualidade de vida parece ser um conceito que tem múltiplas dimensões e com difícil definição. No processo de envelhecimento também ocorrem mudanças na cavidade oral e nasal prejudicando o paladar e olfato. O equilíbrio oclusal e muscular é necessário para que os dentes possam manter sua correta inclinação axial. Qualquer desvio nesse equilíbrio da atividade muscular poderá acarretar anormalidades na forma e no crescimento dos tecidos.
Os dentes poderão sofrer alteração de suas posições axiais e procurar outras posições, buscando restabelecer o equilíbrio rompido. A saliva age como um protetor anticárie e nas suas funções de mastigação, deglutição e fala. O uso de alguns medicamentos, freqüentemente ingeridos por idosos, podem provocar xerostomia, boca seca, expondo – os a problemas dessa natureza. As limitações da senilidade em relação ao trato diário da boca também acabam desencadeando problemas, como má higiene, infecções e maior incidência de problemas periodontais , lesões mucosas e conseqüentemente halitose. A halitose observada freqüentemente em pessoas idosas deve-se geralmente a xerostomia, por sua vez derivada da hipotonia das glândulas salivares, tendo como causa medicamentos, fumo em excesso, menopausa, doenças sistêmicas ( como o diabetes, problemas renais ) e metabólicas como febre alta e desidratação, distúrbios emocionais, uso excessivo de alimentos condimentados e pobre higiene oral.
Acúmulo de tártaro na região lingual dos incisivos inferiores. A falta de dentes e ou uma prótese mal ajustada pode restringir a alimentação dos idosos e constrange-los do convívio social. A condição da prótese dental deve ser reavaliada no caso de perda de peso pois sua inadequação ou ausência podem dificultar a ingestão dos alimentos. As próteses devem ser mantidas em boas condições de higiene. Com a idade, a diminuição na deposição de cálcio torna o osso menos mineralizado, provocando a diminuição do rebordo alveolar em altura e espessura, apresentando recessão gengival, expondo as raízes dentarias e dificultando a instalação de próteses.
As retrações gengivais e a mobilidade dentária acometem com freqüência os pacientes geriátricos, quer pelo próprio processo de envelhecimento, como por falta de informações preventivas. Elas podem ser de origem senil, traumática ou acidental, localizada, generalizada e outras. – Paciente de 85 anos apresentando retrações generalizadas. A mobilidade dentaria é ocasionada pela diminuição da inserção periodontal, que vai lesando as fibras do ligamento, descalcificando o cemento radicular e causando reabsorção do osso de suporte dentário.
Com o osso de suporte reduzido, dificulta a colocação dos implantes, assim como a osteointegração e reparação óssea são mais lentas, associadas à suscetibilidade do idoso à infecção. Com a reabsorção óssea a cavidade articular também sofre transformações, tornando-se rasa com a diminuição da eminência articular e da cabeça da mandíbula, também pela perda de dimensão vertical. Dessa forma, dependendo do nível de reabsorção óssea, o periodonto de sustentação fica comprometido, havendo perda da crista óssea interdentarea, reabsorção óssea horizontal e vertical, com conseqüente migração apical da aderência epitelial e retração gengival, culminando com mobilidade e perda dental.
Isso, associado à diminuição da resistência local a microorganismos, pela reparação óssea e da mucosa comprometidas, e ainda por uma desmotivação e ineficiência na higienização, torna a presença de cálculo e gengivites bem mais constantes. A doença periodontal tem sido associada a problemas cardiovasculares, diabetes, infecções pulmonares e varias outras complicações. Por causa do bruxismo e do desgaste funcional em decorrência da idade, nota-se a abrasão do esmalte nas superfícies oclusal e incisal.
O uso de pastas dentifrícias abrasivas associadas a escovação dentaria vigorosa, ao longo do tempo, é comum o aparecimento de sulcos na região cervical. Sob o ponto de vista periodontal, a destruição das estruturas periodontais começam a evidenciar-se a partir da 4ª e 5ª décadas da vida. A dentina torna-se mais rígida e os canalículos dentinários, juntamente com o canal radicular vão se obliterando. O cemento torna-se mais espesso, o espaço pericementario diminui ou ate mesmo desaparece, assim como o ligamento periodontal, fazendo com que o dente fique mais rígido no alvéolo e, portanto, mais propenso a fraturas. Alem dessas alterações do periodonto levarem a problemas periodontais, doenças sistêmicas podem provocar consequências bucais tais como, o liquem plano, candidíase, Herpes, Zoster, Blastomicose Sul – Americana, Pênfigo vulgar e os tumores mais freqüentes na terceira idade.
A perda da dentição observada com freqüência nos idosos, é acompanhada por uma atrofia na mucosa oral, diminuição e atrofia das papilas gustativas e redução em torno de 25% na secreção das glândulas salivares. As mudanças no olfato representam a maior queixa nos idosos, devido a redução da umidade e de muco na cavidade nasal. Sabe-se que é perfeitamente plausível que uma pessoa de oitenta anos ou mais, mantenha seus dentes em perfeitas condições de funcionabilidade, estética e forma, convivendo com os demais tecidos sãos da cavidade bucal, desde que os princípios de prevenção, da terapêutica, da motivação, da orientação, da estética e das próteses sejam seguidos desde tenra idade do indivíduo.
É conveniente a recomendação rotineira e sempre enfatizar as técnicas para higienização . A técnica “ obliqua” descrita e publicada por LASCALA e MOUSSALLI ( 1981), vem sofrendo modificações no decorrer do tempo, é indicada principalmente para pacientes geriátricos, pela facilidade de ensinamento, de assimilação e execução. Considerando-se os pacientes odontogeriatricos, pela evolução normal de suas características ao longo da vida, não é possível esquematizar um tempo/período padronizado para controle, manutenção e revisão do tratamento. Suas caracteisticas absolutamente individuais nos levam a estabelecer um tempo para as chamadas periódicas. Em princípio, quando a gravidade é intensa, um controle clínico mediato de 30 dias, após a alta é recomendado. O segundo controle mediato é realizado após 60 a 90 dias.
Em casos brandos, o controle clinico mediato é feito após 90 dias; o segundo após 6 meses e os posteriores após 180 dias. Se as condições de higiene são ótimas, a mobilidade reduzida, a oclusão estável e há ausência de bolsa periodontal, pode-se realizá-lo até em 12 meses. É fato que a saúde bucal promove o bem-estar, aumenta a autoconfiança e melhora o relacionamento inter-pessoal em qualquer faixa etária.
REFERENCIAS:
YODER,M.G.Geriatric ear, nose, and throat problems. In: Reichel W.(ed.). Care of the elderly: clinical aspects of aging 4a. Ed. Baltimore, Williams & Wilkins, 441-50, 1995. BRUNETTI, R.F.; MONTENEGRO, F.L.B. OdontogeriatriaNoções de Interesse Clínico. São Paulo, artes médicas, 2002. SILVA-NETTO, C.R. Deglutição na criança, no adulto e no idoso. Fundamentos para Odontolgia e Fonoaudiologia. Editora Lovise, 2003.
Leave a Comment